quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Meu irmão e o Pavilhão Chinês


Eu, magérrima e com uns 10 anos, na companhia do meu irmão da mesma idade, na fazenda de nosso pai, chamada Santa Julia que na minha opnião deve ter algo a ver com a imagem que meu sonhador papai tinha de sua filhinha...
Hoje vou contar duas histórias: uma de uma das pessoas mais marcantes que já conheci, meu irmão. A outra, de um dos lugares mais diferentes que já fui: o Pavilhão Chinês.
Meu irmão e eu nascemos com a impressionante diferença de apenas 10 meses de idade. Isso equivale a dizer que quando eu tinha apenas 1 mês de vida, minha mãe se descobriu grávida novamente o que por si só já dá a ela direito a reserva de camarote vip de seu lugar ao céu!
Portanto eu literalmente cresci com ele.
Quando crianças e mais adolescentes brigávamos alucinadamente! Eu, a festeira, popular, bagunceira e até um pouco egoísta, dessas que acha que sua própria diversão vem sempre em primeiro lugar, reconheço.
Ele, o intelectual, reservado, tímido, organizado, detentor das melhores notas de todo o colégio, o queridinho de minha mãe, eu sempre fui mais a menininha do papai.Tenho certeza de que nossos pais esperavam papéis bem diferentes do que hoje temos. Acho que minha mãe via o meu irmão empregado em alguma multinacional, pai de familia, sossegado e calmo. E eu, acho que nem me atrevo a pensar o que ela achava que minha vida seria...
O fato é que em algum lugar de nossas vidas, nossos papéis se inverteram. Ele rompeu com os paradigmas e com tudo o que esperavam dele e foi viver sua vida intensamente. E eu me descobri feliz sendo a (não tão) calma esposa de um advogado e mãe de três filhos.
E acho que isto foi fator decisivo para que nós nos aproximássemos e nos entedessemos como ninguém. Pois onde estou hoje, ele já esteve. E onde ele está hoje eu também já estive.Ele sabe o que é ter a pressão de continuar mantendo a imagem do que agora esperam de mim, que é ser o mais próximo da perfeição o tempo todo. E eu sei que não é fácil ter a imagem de bad boy quando na verdade tudo o que se quer é ser verdadeiro consigo mesmo e viver a vida em que acredita!
Será que quando ele ler isto vai concordar comigo?
Eu e meu irmão vivemos separados pela enorme distância de um oceano, 12 horas de avião e alguns milhares de euros. Acho que o amor que sentimos um pelo outro é maior ainda que a distância que nos separa. E assim,nós tentamos sempre nos encontrar o mais que seja possível e este ano conseguimos o feito por duas vezes, uma em julho, em Paris que é nossa cidade favorita, outra agora nesta viajem em Lisboa.
E foi no Pavilhão Chinês que marcamos o nosso encontro, sempre tão esperado!
O Pavilhão Chinês é diferente de tudo o que eu esperava encontrar em um bar em Lisboa. Primeiro porque não tem cara de chinês. Soube que o lugar foi uma antiga mercearia que já tinha este nome, no princípio do século XX.
Quando se chega ao Pavilhão Chinês, que possui uma fachada simples e discreta, se encontra a porta fechada. Toca-se a campainha e espera-se o garçom que abre a porta e nos conduz para uma viagem ao espanto.
Não sei qual a impressão maior: se entramos na casa de uma tia maluca que tem por mania guardar todas as quiquilharias do mundo ou se estamos diante de algum museu excêntrico, desses que a gente encontra em Londres ou Amsterdam.



A primeira imagem é da minha câmera, as outras peguei
aqui
e aqui

É que o lugar, enorme, cheio de salas, é repleto de prateleiras e armários envidraçados abarrotados de coleções que vão desde a soldadinhos de chumbo, bonecas de porcelana, aviõezinhos de guerra, à uma espetacular coleção de bonecos fazendo aquela expressão com os braços que indicam que estão dando uma banana,sabe? E quando eu digo abarrotado, é abarrotado mesmo, do chão ao teto.
Depois de uma breve circulada pelo lugar, sentamos na sala principal e nos deparamos com mais uma surpresa: o livro cardápio,uma obra de arte de 82p em formato livro, repleto de ilustrações divertidas, da autoria de Luís Pinto Coelho, e que reportam à cultura boémia, dos clubes ingleses ou dos cabarés franceses, entre a caricatura e uns toques de erotismo, com muitas pin-ups à antiga.
Chás, chás e mais chás,do Ceilão, Índia, Formosa, China, Japão, Geórgia, Nepal ao Quénia, fazem parte do menu...
A lista de cocktails também é enorme e praticamente tudo o que você ousar beber, encontrará ali.
Somente para comer é que não se acha muita coisa, alguns sanduíches, embutidos e só.
Na última sala, a única em que se pode fumar, duas mesas de jogo para os que apreciam.
E o melhor de tudo para mim: sentar e ficar observando a reação dos turistas que chegam ao bar pela primeira vez e ficam olhando tudo com aquela cara de quem não sabe ao certo se é pra rir ou levar a sério um lugar como aquele...
E uma vez lá com meu irmão, nós que esperávamos fazer apenas uma horinha lá, fomos ficando, ficando, bebendo, bebendo, a música estava ótima e cada vez mais descobríamos outra coleçãozinha maluca para olhar, quando vimos já beirávamos as primeiras horas da manhã, fomos os últimos a deixar a casa.
Definitivamente meus encontros com meu irmão estão se tornando insuperáveis no quesito charme.
E definitivamente eu recomendo: uma vez em Lisboa, vá ao Pavilhão Chinês. Depois você me conta...

Serviço:
Pavilhão Chinês
TELEFONE
213424729
LOCAL
Lisboa, R. D. Pedro V, 89
HORARIOS
Segunda a sábado das 18h00 às 02h00
Domingo das 21h00 às 02h00
PREÇO
Consumo obrigatório. Cocktails 7,50€; chás 4,50€; cerveja 3€ (garrafa 3,50€ / caneca 5€); whisky novo 6€; whisky velho 10€.
OBSERVAÇÕES
"Cocktails" preparados no momento; sugestão: coktails "Pavilhão Chinês" e "Vaca Gorda". Encerra apenas a 24 e 25 de Dezembro.
MUSICA
Jazz, Variada, Clássica, Ambiente

Um comentário:

Antonio Da Vida disse...

sem palavras... amei!!!
E concordo sim com tudo!
mil beijos!